De Sócrates a Sthephan Hawking… Olhos encantados pela Verdade

A morte de Stephen Hawking, nos convida acima de tudo a olhar para nossas próprias vidas.  No auge de sua juventude, ele recebeu um diagnóstico devastador e mesmo assim continuou a agarrar a cada instante, de uma forma absolutamente inspiradora e revolucionou todo o pensamento da física moderna,  apesar das limitações de um corpo quase completamente paralisado, se comunicando muitos anos através do movimento de um único dedo, e depois apenas pelo movimento dos olhos.

Não é meu interesse falar  aqui, sobre cada uma de suas perdas e vitórias, visto que com sua morte, a mídia já está a explorar enfaticamente sua incrível jornada. O meu convite é para que olhemos além da superfície e também investiguemos se ele era aquele corpo debilitado, ou consciência a se expressar através do corpo.

É comum vermos uma multidão de vitimizados que diante de desafios absurdamente menores, se voltam para a própria dor e fecham os olhos para os mistérios da existência. Stephen Hawking é uma prova viva de quanto estes mistérios podem ser arrebatadores e capazes de nos lançar em uma dimensão diferenciada da percepção,  de encantamento e superação das dificuldades que acontecem na periferia.

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Sua vida poderia ser considerada para muitos como uma prisão, mas a liberdade da alma estava a se manifestar não só para procurar desvendar os segredos do universo, mas igualmente para amar, criar uma família e expressar um humor leve.

Ele é um gênio que experimentou uma presença gigante da morte durante toda vida. Sua partida me fez lembrar da história de um grande sábio que não só investigou a existência, mas também em detalhes a própria morte.

Sócrates. O filósofo grego que viveu de (470 a.C.-399 a.C.) e entre outras coisas nos deixou a  máxima:  “Conhece-te a ti mesmo.”  Enquanto os filósofos de seu tempo discutiam a constituição do Universo, a sua principal questão era o conhecimento de si mesmo. Seu método a “maiêutica,” constrangia os mais eruditos, visto que ele só respondia a uma pergunta através de outra pergunta e repetia com frequência:  “Sou o homem mais sábio de Atenas, porque só eu sei que nada sei.”

Tão inquietantes eram as questões que ele trazia, que foi considerado um criminoso, e condenado a morte por envenenamento. O preço que pagam os gênios que olham para o Universo não apontando para  fora, e sim para  “dentro.”

São muito inspiradores vários de seus momentos, mas deixo aqui um que me visitou hoje a lembrança, quando o tema dos noticiários voltava muitas vezes para: a “morte de um gênio.”

Deixo aqui uma citação de Osho sobre este belíssimo momento:

Sócrates estava morrendo. Seus discípulos começaram a chorar e gemer; É natural, mas ele lhes disse: “Parem! Não me incomodem, deixe-me investigar. Não me distraiam! Vocês podem chorar então, logo eu Eu irei embora. Agora, permitam-me investigar o que é a morte. Toda minha vida, eu tenho esperado por esse momento para entrar na realidade da morte “. – Ele havia sido envenenado. Ele estava deitado na cama, observando o que É a morte. A investigar o que é a morte. Então ele disse aos discípulos:

“Meus pés estão ficando entorpecidos, mas eu ainda sou o mesmo que era antes. Nada foi tirado de mim. A sensação de meu ser é tão plena como antes. Meus pés se foram. ” Então ele disse: “Minhas pernas se foram, não as sinto mais, porém ainda sou o mesmo. Não consigo me ver reduzido a nada menos do que era antes. Eu permaneço pleno “. Então ele continuou: “Meu estômago está entorpecido, minhas mãos estão ficando entorpecidas “.  “Mas eu ainda  digo: Eu sou o mesmo, e nada me foi tirado”.


O veneno não removeu nada de mim. ” E então ele começou a sorrir e disse: “Isso mostra que mais cedo ou mais tarde a morte também tomará meu coração, mas não pode me levar. ” Então ele continuou: “Minhas mãos se foram, agora Até meu coração está parando, e essas serão minhas últimas palavras porque minha língua está ficando entorpecida. Mas eu digo, lembrem-se, pois estas são minhas últimas palavras; Eu ainda sou o mesmo. ”

Isto é para investigar a morte. Da própria concepção até a morte em si, o homem é uma investigação em busca da verdade E se você não está procurando a verdade, você não é um homem. Então você perdeu a oportunidade. Então, no máximo, você parece um homem, mas você não é. Sua humanidade é apenas uma aparência, mas não está em seu coração. E não se deixe enganar pelas aparências: Quando você olha no espelho você pode ver um homem, mas isso não não diz nada. A menos que sua pesquisa cresça até essas alturas que toda a sua energia se transforme em uma questão e você se torna um buscador, você não é um homem. Essa é a diferença entre outros animais e o homem.  Eles vivem, eles não perguntam. Eles apenas vivem sem perguntar. Nenhum animal nunca perguntou: o que é a verdade? O que é a vida? Qual é ele sentido da vida? Por que estamos aqui? De onde viemos? Para onde vamos? Nenhuma árvore, nenhum pássaro, nem animal ou esta grande Terra pediu isso. Este céu tão tremendamente genial nunca fez perguntas sobre isso. Esta é a glória do homem. É muito pequeno, mas maior que o céu, porque há algo único nele, a pergunta. Até o céu imenso não é tão grande como o homem, porque talvez o céu ter um final, mas a questão do homem não tem fim. É um eterna peregrinação, sem começo, sem fim.

Osho: La Búsqueda los Diez Toros Del Zen

Sócrates já se foi a muito tempo… E nesta “breve história do tempo, Stephen Hawking acaba de partir. Um investigou o Universo da consciência e o outro a consciência do Universo. Um viveu em um corpo limitado e dai flertou além dos sóis e o outro foi capaz de serenamente investigar a própria morte.

E você, em que direção olha? O que investiga? Qual o sentido da sua existência?

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E muitos negarão até o último momento o Desconhecido, cada mistério que o tempo todo nos envolve nesta breve jornada, tanto neste espaço que chamamos dentro, quanto no que chamamos fora, e a maioria negará a própria morte mesmo que ela esteja claramente a sua frente a oferecer o último brinde. Por medo, perdemos a chance das mais incríveis descobertas, de ser como uma criança e como Sócrates  diante do infinito dizia: “Sei que nada sei”. Não estamos paralisados por uma doença auto-imune, nem tão pouco temos o corpo a morrer pela paralisia da cicuta. Seguimos mortos pela covardia de desvendar a beleza da vida/morte, nesta breve história do tempo onde somos reconhecidos por um nome qualquer.

Dev Swaran

Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito” – William Shakespeare